Por Fernando Horta.
Ando afastado das redes sociais e da escrita e, por isso, peço desculpas. Não que eu ache que minha opinião mude alguma coisa no país perverso que nos tornamos, mas há um grupo de pessoas com alguma sanidade e um senso de humanidade que se sente completamente perdida e muito têm me dito que ler um texto crítico a este estado de coisas faz com que estas pessoas se sintam vivas. Faz com que se sintam capazes de seguir resistindo e faz com que mantenham a sanidade.
Chegamos a mais de 100 mil mortos e o governo comandado por militares argentários e um fascista insano diz: “vida que segue”. É bem verdade que a vida nunca foi um valor importante, nem para o exército e nem para o capitão-fascista. Mas dizer “vida que segue” é colocar esta abominação de governo num patamar de monstruosidade que jamais pensamos em vivenciar no Brasil.
E quando falo “jamais pensamos”, me refiro à população branca e de classe média urbana. Isto porque, a bem da verdade, as pessoas que vivem na periferia ou que tem a “cor errada” para o nosso país escravocrata convivem por décadas com um Estado que valora as mortes de forma positiva e suas vidas como um custo para o Estado. É o custo da bala que os mata e do burocrata que os transforma em números.
Este estado de coisas explodiu nos EUA, país mais racista do mundo. Aqui, a morte de dezenas de crianças com tiros pelas costas não coloca a sociedade em condição de acabar com a gangue que mais mata pessoas neste país: a Polícia Militar.
Em um país em que a vida nada vale, era de nada se esperar numa pandemia. Cem mil mortos pela gripezinha e o governo gastou 54% dos recursos destinados pelo Congresso. Isso, em qualquer parte civilizada do mundo, renderia impeachment. No Brasil, Maia e Alcolumbre protegem Bolsonaro tanto quanto seus generais asseclas com seus filhotes em cargos de confiança.
Todos são cúmplices neste morticínio que não se restringe apenas às áreas rurais. Indígenas estão morrendo e sequer o cuidado da burocracia – para os transformarem ao menos em números – este governo tem. Deliberadamente esconde números. Esconde os perigos da pandemia. Mantém a população mal informada e patrocina ações de incitamento ao fim do isolamento que – no fundo – significam o incitamento à morte. Nada de novo faz, contudo, o Exército brasileiro. Esconder mortos, enganar a população e proteger facínoras é expertise corrente dos nossos militares desde 1964, pelo menos.
O que espanta é o Parlamento. Certo que Maia e Alcolumbre servem de cães protetores do inferno que jogam a população brasileira, mas eu pensava o motivo disto. Aí, dei-me conta que toda pressão sobre Bolsonaro arrefeceu quando Guedes disse as palavras mágicas: “Vamos vender cinco ou seis empresas estatais no segundo semestre”. Neste governo cem mil vidas valem muito menos do que cinco ou seis empresas estatais a serem privatizadas. E tudo dá conta da morte de dispensáveis (nós, o povo) em troca do enriquecimento dos bilionários.
Esta situação me deprime, assim como deve fazer com toda pessoa que retenha um pingo de humanidade.
Dos monstros eu não esperava mais nada, até ver a notícia hoje de 110 mil crianças voltarão às aulas na região norte. Nos EUA vários estados declararam o fim do ano letivo e os que tentaram voltar no último mês estão apavorados com o contágio. No Brasil os filhos de militares seguirão protegidos que já o nosso “valoroso exército” (e pelo que ganham é realmente um valor alto) não vai consentir com o retorno das escolas militares. Quem volta é o filho do pobre. São os mesmos dispensáveis que morrem. E agora vemos que Bolsonaro trouxe a democracia à morte. Talvez dos 220 milhões de brasileiros, uns 20 milhões sejam defendidos pelo Estado de Bolsonaro. O resto, se morrer, “vida que segue”.
Uma coisa me chamou à atenção. Sou professor. Minha vida, minha formação e minha paixão é ensinar. Os professores que voltarem às aulas – mesmo com turmas reduzidas – terão contato diário com cerca de 120 pessoas. Isso é mais que médicos que não atendem em seus consultórios 120 pessoas por dia. É mais que um vendedor que não têm 120 compradores todo dia. É mais que burocratas que trabalham em andares de empresas que não tem 120 colegas por dia. Os professores do Brasil serão expostos a um nível de contágio semelhante aos médicos que trabalham em UPA’s e hospitais. Com a diferença que o governo não vai dar EPI ou qualquer proteção.
O genocídio agora será das crianças e dos professores. E até que morra um familiar dos generais canalhas que apoiam este governo ou um filho-fascista dileto tudo o que se espera do governo é “vida que segue”.
A situação é tão terrível que desejo, todo dia, que morram todos. O fascista, seus filhos e todos os que o apoiam. O cinismo do bom-mocismo não tem espaço mais quando atingimos mais de cem mil mortes e agora estes canalhas vão matar crianças e professores.
Que morram todos. Está na hora do “olho por olho, dente por dente”. Nos tornamos um dos lugares mais bestiais e monstruosos da Terra. E com o voto de 57 milhões de “compatriotas”. Que morram todos.