Correspondentes Internacionais Luiz de Aquino

A crise dos coletes amarelos

Por Luiz de Aquino, correspondente Internacional diretamente de Paris para o Portal Baixada de Fato.

Foto: Cinegnose.blogspot.com

A pedido do meu amigo Jasper, e na qualidade de correspondente permanente da Baixada de Fato, aqui vai uma pequena crônica que tenta dar um rápido retrato da situação.

Os coletes amarelos « les giletes jaunes » é o nome que foi dado à um movimento de cidadãos que se revoltam contra a degradação dos direitos adquiridos pelas gerações anteriores. Os pontos nevrálgicos são basicamente os mesmos de sempre: alimentação, moradia, saude, educação, poder aquisitivo, desigualdade social… Ha mais ou menos 1 mes, temos presenciado em varias cidades importantes, manifestações bastante violentas e face à determinação do movimento, o governo que a principio se mostrou arrogante e inflexivel, pouco a pouco passou a ser conciliante e esta sendo obrigado a fazer concessões .

Eis aqui algumas das vitorias do movimento:

-Aumento de 100€ por mes do salário mínimo que passa de 1500€ para 1600€ brutos por mes sob uma média de 35 hs semanais.

-Anulação da taxa carbono que impacta os veículos à diesel mas penaliza uma grande parte da população (sobretudo rural) Para que se tenha uma idéia, o diesel no começo do ano custava menos de 1,30€ , e em novembro superou o preço da gasolina que é de 1,50€

-Anulação do aumento dos impostos para os aposentados que ganham menos de 2000€ por mês.

-Anulação de imposição sobre as horas extras.

-Exoneração de imposto sobre os bônus de final de ano das empresas aos salariados

-Cheque « energia » de 200€ por ano para minimizar os efeitos dos aumentos do gaz e eletricidade para as famílias de baixa renda.

-Prolongação do beneficio de até 2.500€ para substituir os veículos antigos e poluentes por veículos híbridos ou elétricos.

-Aumento da indenização quilométrica dedutível dos impostos para os trabalhadores que utilizam veículos próprios. Os veículos que poluem menos terão dedução superior.

– Limitação de taxas bancarias para população modesta- ou seja quem é pobre pagara menos taxas de banco- Lembrado que a taxa de juros esta em torno de 1 a 1,5 ao ano!

Uma das reivindicações recentes que esta ainda em gestação é o RIC – Plebiscito(Referendum) de iniciativa cidadã, que prevê a possibilidade de apresentar sugestões de projetos de lei emanando diretamente da população-> à condição de obter um certo numero de assinaturas.

O governo e particularmente a direita opõe como argumento que esse lote de medidas destinadas a acalmar a população trará consequências desastrosas para o pais à médio e longo prazo. A França é um dos países mais endividados da zona do euro.

Em todo caso, em conclusão, o que eu acho relevante e saudável é a capacidade de reação que demonstra o poder do povo sobre o governo. O anti-conformismo do francês deveria nos servir de exemplo.

Apesar de estar fora do Brasil ha décadas, acompanho com extremo interesse a evolução da paisagem politica brasileira e constato que estamos a anos luz de uma consciência social perene. Lembro que em 2013 havia o slogan « o gigante acordou »…oups…Acordou e foi assistir televisão e protestar no FaceBook repetindo frases feitas e fakenews.

O questionamento do francês gira em torno do equilíbrio entre a manutenção dos direitos e a realidade macroeconômica. As variáveis de ajustamento são uma imposição mais forte dos ricos e super-ricos, estancar a sangria da imigração que dilapida os direitos dos europeus, roer um pouco dos direitos do povo.

Ai no Brasil, tenho a impressão que a questão mais proeminente é a corrupção. Os que tem poder para resolve-la são os próprios políticos corruptos ou envolvidos com corruptos notórios.

As manifestações do povo, revoltas, passeatas, greves, são ínfimas em proporção dos absurdos que lhes são infligidos.

Os quesitos justiça social, direitos e deveres, educação, conscientização do povo, valorização do patrimônio cultural, saúde para todos, fazem parte do patrimônio francês.

Acho que o Brasil será uma grande nação tiver um patrimônio similar.

Compartilhar