Praia Grande

Condenação de militares por estupro em Praia Grande inova a nível nacional

Por Camila Santos especial para o BdF

Diário de uma detenta (Violada)
“Brasil, todos os dias, em pleno ano de 2023
Aqui estou mais um dia,
Sob o olhar sanguinário dos vigia
Você não sabe como é caminhar, com seu corpo na mira de quem só quer te matar
Respeito aos corpos não tem, tá tudo ao léu
Rasgam nossas almas que nem papel.
Mas continuamos de pé, e unidas seguimos na fé
Servindo o Estado um PM bom?
Não importa, machos, subimos o tom
Vocês sabem o que queremos
Sabem o que vemos
Lutamos por todas, e juntas vivemos!”
Adaptação da música Diário de um Detento dos Racionais MCs

O ano era 2019, uma jovem de apenas 19 anos se perde na volta de uma festa na cidade de Praia Grande, e resolve PEDIR AJUDA, no pedido aborda uma viatura da Polícia Militar que continha dois indivíduos (sim, dois indivíduos) de farda, que utilizando da sua posição de privilégio diante da jovem que precisava de ajuda, resolvem usufruir de tal posição que somada à certeza de impunidade, os faz mostrar quem eram, estupradores.
Tais policiais oferecem carona para a jovem vulnerável e perdida, a levam para uma área da cidade de Praia Grande que não tinha movimento de pessoas e praticam o ato que marcaria ela para o resto da vida! Eles a violam, a estupram, a tratam como uma propriedade e como se tivessem direito sobre seu corpo!
Em decisão inicial, a justiça (mais precisamente o juiz Ronaldo Roth da 1ª Auditoria Militar) decide inocentar tais policiais, com os mesmos argumentos que nós mulheres, que nascemos vestidas de culpa pela sociedade, estamos acostumadas a carregar, “Ela não resistiu ao sexo”, “Era impossível ocorrem um estupro em um carro deste modelo (Fiat Uno)”, “ela não reagiu”, “ a vítima poderia ter resistido, mas não o fez”.
Como uma Mulher reage à dois policiais em uma violência sexual em uma viatura, no meio de uma área não residencial e sobrevive a isso?
Mas, fomos às ruas por esta Mulher e por todas Nós que sofremos este tipo e demais violências! Porque ao segurarmos as mãos umas das outras, mudamos a direção dos ventos e das decisões, como ocorreu.
No dia 19 de março de 2023 saiu a decisão da Justiça Militar após a um recurso apresentado pela Defensoria Pública de São Paulo, em que reverte a decisão citada acima e os policiais militares Danilo de Freitas Silva e Anderson da Silva Conceição recebem a condenação de 16 anos em regime fechado e 7 anos em regime semiaberto, abrindo precedentes até então inéditos para vítimas de crimes praticados por policiais militares. Ainda cabe recurso por parte dos réus.
Esta decisão até então inédita, vem depois de muita dor e sangue, dor sentida e revivida pela vítima, que tinha apenas 19 anos quando foi violada por dois estupradores de farda! Dor sentida por milhões de Marias que são violadas por homens que decidem que aquele corpo lhes pertence sem nem os conhecer! Dor sentida por milhões de Anas espancadas e violadas por seus maridos que se sentem no direito de possuir seus corpos! Sangue derramado por milhões de mulheres vítimas de feminicídio todos os dias!
Já basta! Não aceitamos mais! Na luta por nossas vidas, estamos juntas, e de mãos dadas, indo às ruas e enfrentando até os violadores de farda! NÃO PASSARÃO!!!

Fotos Fernanda Morbeck

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