Por Ricardo Flaitt (Brasil 247) – Na comédia de humor negro “Feios, Sujos e Malvados”, o diretor Ettore Scola mostra o ser humano em sua condição de barbárie, à margem do sistema, dos princípios, dos padrões convenciados pela sociedade. E, desta forma, mostra até os tempos atuais, os seres humanos que estão diante de nós no dia a dia, nos aglomerados urbanos ou sob os viadutos da cidade.
O filme de Scola se passa na Itália, mas poderia ser qualquer periferia do mundo. Numa favela aos arredores de Roma, Giacinto é um ex-operário que sacrifica um olho para receber uma indenização proveniente de um seguro e, assim, viver a não fazer nada, a não ser esconder paranoicamente sua pequena fortuna dos demais membros da família.
Giacinto (interpretado magistralmente por Nino Manfredi) convive com mais 15 membros, entre mulher, filhos, sua mãe, genros e agregados, que vivem num barraco de três cômodos. Nesse universo, a família formada por ladrões, um transexual, vagabundos e crianças relacionam-se de maneira que vai do promíscuo ao escatológico.
É um mundo que transcorre em meio a animais, sujeira, escatologia, incesto, evidenciando que o homem longe dos padrões estabelecidos, obedece apenas aos seus instintos mais primitivos.
Nesse cenário de barbárie humana, a intenção do diretor é fazer ressaltar aos olhos o estado de total descaso em que são submetidas as pessoas que vivem à margem da sociedade.
O riso nos é provocado por meio das situações mais absurdas, situações limite entre o ser humano e o animal, um riso que nos chega à boca diante da calamidade, do não convencional, do fora da ordem do que determina o sistema.
Um filme que nos faz lembrar do nosso lado animal, de nossas ambições tacanhas, nos faz dar risada diante de nossa condição humana e frágil, que se desmancha no ar das aparências.
Assista o trailer:
FEIOS, SUJOS E MALVADOS
(Brutti, Sporchi e Cattivi , Itália, 1976).
Direção: Ettore Scola.
Roteiro: Sergio Citti, Ruggero Maccari, Ettore Scola.
Elenco: Nino Manfredi (Giacinto Mazzatella), Maria Luisa Santella (Iside), Francesco Anniballi (Domizio), Maria Bosco (Gaetana), Giselda Castrini (Lisetta), Alfredo D’Ippolito (Plinio), Giancarlo Fanelli (Paride), Marina Fasoli (Maria Libera), Ettore Garofolo (Camillo), Marco Marsili (Vittoriano), Franco Merli (Fernando), Linda Moretti (Matilde), Luciano Pagliuca (Romolo), Giuseppe Paravati (Tato).
Drama / Comédia.
115 minutos.
Festival de Cannes: Melhor diretor. Concorreu à Palma de Ouro em Cannes.